O Movimento Dulcynelândia surgiu do encontro de artistas para comemorar o centenário da atriz Dulcina de Moraes no inicio de 2008, na cinelândia na porta do Teatro que encontrava-se fechado.
Pensou-se então em uma ação que pudesse chamar atenção da classe artística e das autoridades para o descaso e fato do teatro Dulcina estar fechado no ano do seu centenário.
Chamamos de CHUTE.
Uma ocupação artística nascida no Rio de Janeiro, na Cinelândia. Parida dia 20 de julho. O objetivo inicial era reunir artistas e mobilizar o público aos domingos para apresentações, num encontro que representasse a conscientização dos artistas e do público para a administração equivocada do Teatro Dulcina.
Estabelecemos um canal de comunicação com a Funarte, então responsável pelo espaço. Tivemos nossos momentos, fomos ouvidos, participamos do manifesto que derrubou o presidente na época, Celso Frateschi, abrindo novos caminhos, fomos a reuniões, tínhamos propostas, e mostramos a eles. Falar e dialogar já não bastava, faltava a ação por parte do poder publico!
No dia 5 de Dezembro de 2008, no aniversário do Teatro Dulcina, entramos no teatro fechado. “Chutamos” a porta, com respaldo da FUNARTE, representada por Sergio Mambert, e fizemos um CHUTE lá dentro, em meio aos entulhos de um teatro em desuso, com a participação da ocupação Manuel Congo, nossos parceiros de sempre, de artistas como Ava Rocha, Quinho e muitos outros, que doaram o seus bens mais preciosos, suas artes! Dulcina não é apenas o nome daquele teatro. Dulcina dedicou toda a sua vida, na construção do que acreditava ser muito mais do que apenas um espaço para apresentações de peças, de grupos e companhias.
No início do ano de 2009 recebemos um telefonema da diretoria da FUNARTE convocando todos do Dulcynelândia para uma reunião com o presidente, no prédio Gustavo Capanema no Rio. As propostas para a reabertura e como deveria funcionar o Teatro Dulcina foram discutidas. Ao final da reunião Sérgio Mamberti concluiu levantando três questões: pensar no teatro não só como um palco para apresentações, mas como um ambiente de troca social (!), pensar na criação de um modelo que a ser repetido no resto do país e pensar num espaço para além das capitais, que não seja colonizador, que ele retire e possibilite todos retirarem de si a cultura e o desejo através da oportunidade para o conhecimento, que é encontro, festa, fé, alegria pelo teatro, cinema, educação e cultura.
Continuamos o ano com ações e CHUTEs em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Aconteceram mais 5 CHUTES, em São Paulo com o encontro do Bixigão, Teatro Oficina, artistas e moradores. No Rio a parceria entre o Ducynelândia e os moradores do entorno do teatro Dulcina através da Ocupação Manoel Congo foi maior, promovendo ações artísticas de dentro da ocupação para a rua.
2010 foi um ano de estudos e entendimentos.
E novamente mudanças na Funarte.
Em 2011 o teatro Dulcina/Regina foi reinaugurado. Uma cerimônia pomposa, que contou com a presença do atual presidente da Funarte, Antonio Grassi, além de muitos outros artistas globais, servidos de champanhe e canapés, com faixa de segurança, tapete vermelho e holofotes. Mas, o bom senso nos leva a crer, que não é justo, numa ocasião importante como é a reabertura de um teatro histórico, após 10 anos, ignorar que logo em frente, do outro lado da rua, existe um edifício, onde habitam 40 famílias, a ocupação Manoel Congo. Como é possível ignorar tal fato? Há relatos de moradores que foram grosseiramente acuados por policiais que faziam a segurança local no dia. Como é possível? O Sr. Presidente da Funarte, sequer deu boa noite aos curiosos moradores, que de longe avistavam a “festinha”, quando segurando uma taça de champagne, entrou no seu carrão oficial, que estava parado em frente a ocupação.
O ponto que queremos colocar, é que um espaço com um poder agregador, como é o do Teatro Dulcina, não pode ficar restrito a uma mera cerimônia de abertura, a grupos ocupando-os através de um edital, apresentando seus espetáculos e indo embora. É preciso que os teatros, não só do Rio de janeiro, como no Brasil de uma forma geral, estejam inseridos num espaço urbano, público, e que, portanto, inseridos no ambiente social que o cercam.
É preciso cuidar de teatro como Teatro.
É preciso que sejam ocupados integralmente com arte, com amor, com cuidado e acima de tudo respeito. Abrir seus espaços e pautas vagas para artistas, para a troca e aproximação com o entorno do teatro.
Como dizia Dulcina “Através da arte e do amor podemos tudo! A vida é amor!
Dentro do teatro, até pregar um prego no sarrafo é fascinante!”
Teatro só se faz com aproximação, com amor.
Por esse motivo o Movimento Dulcynelândia volta agora à porta do Teatro Dulcina, transformando o CHUTE em RECREIO, aproximando o entorno e “completando” horários vagos do Teatro com arte, na Rua Alcindo Guanbara, a exemplo das ações realizadas por Dulcina de Moraes em 1960, em que sua intenção era popularizar o teatro e aproximar o público, transformando a rua em um pequeno recreio de crianças ávidas da curiosidade de ver, muitas pela primeira vez, um espetáculo.
Por isso chamamos a todos para estarem na Rua Alcindo Guanabara!
Com suas artes, comunicações e interesses. Para estabelecer essa comunicação com os artistas, o público e novamente com a Funarte. Para conhecermo-nos, estreitando ainda mais os laços já atados nesses 4 anos.
No rito. Na ágora.
EVOÉ !
MERDA!