Em noite de Theatro nem sempre quem tem convite é rei
Em meio a atual conjuntura em que se encontra a FUNARTE, principal órgão responsável pela difusão da cultura no país, os dirigentes do Minc realizaram uma pomposa cerimônia de entrega de medalhas de Honra ao Mérito Cultural na ultima terça feira. O cenário era o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia. Os atores eram a elite brasileira, a elite artística e a não artística. Numa fálica atuação conjunta.
Paralelo ao happening dentro do teatro, do lado de fora, artistas, servidores da FUNARTE e alguns transeuntes se manifestavam sobre aquilo que lá dentro, certamente não estava
A repercussão disso na grande imprensa não poderia ter sido diferente, apenas o glamour dos artistas que lá estavam virou noticia. Não se falava da crise no setor cultural, tampouco dos que insatisfeitos com a atuação do governo sobre as políticas públicas para a cultura, denunciavam sua insatisfação num te-ato bem em frente ao grande Municipal, na rua. O movimento Dulcynelândia para a re-abertura do teatro Dulcina, localizado também na Cinelândia, entregou para os vários artistas que por lá passaram, o projeto para a revitalização do teatro (fechado há oito anos) juntamente com o manifesto chamado SOS FUNARTE, feito em parceria com a ASSERT - associação dos servidores da FUNARTE.
Nesse meio tempo, um dos participantes do Movimento, Freddy Allan, ator, que recebera o convite da grande premiação em sua residência, ao se encaminhar para a porta de entrada do teatro foi categoricamente barrado. E pasmem o convite apesar de ter sido destinado ao próprio, foi tomado pelos seguranças que o impediram de entrar, empurrando-o, maldizendo-o, na frente de t
odos os convidados que continuavam a entrar normalmente, numa total inércia, como se sem ver e nem ouvir nada. Mas a história pra ser boa, boa mesmo, tem que acabar em confusão e dessa vez não foi diferente. A policia pó-li-glo-ta (aquela que - supostamente- dialoga com as várias camadas sociais) entrou em cena e ai não é difícil imaginar o desfecho dessa ridícula situação a que foi submetido o representante dos artistas populares, dos artistas da atua-ação. O menino, ator, cidadão, gente, que tem pouco mais de metro e meio de altura, foi arrastado, literalmente, por dois policias que “generosamente” o puseram pra fora do teatro.
Era a própria materialização do que eu todo mundo e mais o seu Raimundo já desconfiávamos. O acesso à cultura não é para todos. Não mesmo! A cultura brasileira tem que ser celebrada sim. Mas aquilo lá mais parecia um ritual fúnebre. Por que não fazer uma festa na rua, mostrar a Dona Zabé da Loca tocando seu pífano pra todo mundo. Não, tem sempre que recalcar dentro de quatro paredes num teatrão, as donas com seus laquês e os donos com seus ternos pretos e gravatas coloridas. Mortos, todos mortos! Bom mesmo é o povo que faz da arte um estado de espírito. Por certo que a homenageada Eva Todor não estava confortável em seu (imagino eu) pesadíssimo casaco de pele de raposa ou sei lá que outro pobre animal. Apesar de sua incrível semelhança com minha avó, que Deus a tenha, não acredito que essa respeitável senhora de teatro se satisfaça com esse tipo de premiação. Vai saber né?
Não há duvidas de que os artistas brasileiros merecem homenagens, merecem e muita. Esse negócio de cultura brasileira é uma loucura, só de falar da vontade de chorar. É tanta coisa boa, tanta coisa bonita, a coisa vem das entranhas mesmo. Não seria justo transformar toda essa fonte jorrando musica, teatro, cinema, poesia, palhaços, espetáculo de poucos. A cultura vem do povo coloca-la dentro de um quadrado, emoldura-la e coloca-la na parede não creio que seja a melhor forma de preservá-la e saúda-la. Ah! E não para não esquecer, policia é para quem precisa de policia, sendo assim deixem as crianças e os palhaços fora disso, por favor! E viva a cultura nacional!
Nina Lopez